O
direito de pensar é como o direito de nascer, já que se você não pensa pode-se
considerar um “verme”, ou seja, um “peso morto” para a sociedade que vai
acumular um enorme contingente de pessoas depententes, isto é, inicialmente
psico-mentalmente e, posteriormente, também a dependência material. Frei Betto,
emérito escritor, filósofo, jornalista e pensador político, diz o seguinte às
páginas 231 de sua fantástica obra A mosca Azul (reflexão sobre o poder), da
Editora Rocco, 2006:
“O neoliberalismo,
empenhado em preparar o funeral da história, insiste que deixemos de pensar.
Melhor redizer as palavras, submeter o pensamento ao pragmatismo tão em moda, como
a arte da prosperidade, ou ao realismo cético de que se dobra ao pensamento
único ao delegar ao sistema o direito de pensar por ele.
Quem acata tão insólita sugestão
afasta-se de Platão, mestre em tornar o ato de pensar uma forma de dialogar. Ou
vice-versa. Quem deixar dominar pelo medo de pensar evita contradições e
opiniões divergentes, assimila o pensamento de quem o proíbe de pensar e se
alheia da busca de verdade, confundindo-a com a autoridade. Ou pior; julga o
seu pobre pensar refletir a verdade lapidar e olvida que há a sua verdade, a
minha verdade e a verdade verdadeira, ensinavam os antigos sábios chineses. O
desafio é buscarmos, juntos, a verdade verdadeira”.
E com sua sabedoria percuciente arremata
impiedosamente:
Toda verdade humana é relativa: e o
nosso juízo crítico, dotado de bom humor, deve sempre persegui-la, peneirando-a
na dúvida. Apear-se do bom humor e do senso crítico é pisar no alçapão dos
dogmas e, lá dentro, congelado, abraçar-se à verdade aparente. Ora, prefiro
inscrever-me na maratona de Descartes, submeter o pensamento ao crivo da dúvida,
de modo a construir, por uma sequência de operações, uma representação mental
da realidade.
Pensar é calcular, diz Hobbes, e não
se refere à sua conta bancária. Pensar é unificar representações numa consciência,
afirma Kant, mestre da lapidação de conceitos. Wittgenstein enfatiza que pensar
é elaborar proposições dotadas de sentido. Pensar não é abraçar o que concebe
minha mente. A mente mente. Convém desmascarar
o saber travestido de pensamento. Como lembra Marx, se toda essência e
aparência coincidissem, as ciências seriam supérfluas. Quem pensa exerga além
das aparências. Mas as aparências seduzem a ciência. Por isso, esta tende a
rejeitar sua irmã gêmea, a filosofia.”
Se alguém quiser contestar, que fique à vontade! Grato.
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