quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O DIREITO DE PENSAR...

O direito de pensar é como o direito de nascer, já que se você não pensa pode-se considerar um “verme”, ou seja, um “peso morto” para a sociedade que vai acumular um enorme contingente de pessoas depententes, isto é, inicialmente psico-mentalmente e, posteriormente, também a dependência material. Frei Betto, emérito escritor, filósofo, jornalista e pensador político, diz o seguinte às páginas 231 de sua fantástica obra A mosca Azul (reflexão sobre o poder), da Editora Rocco, 2006:

“O neoliberalismo, empenhado em preparar o funeral da história, insiste que deixemos de pensar. Melhor redizer as palavras, submeter o pensamento ao pragmatismo tão em moda, como a arte da prosperidade, ou ao realismo cético de que se dobra ao pensamento único ao delegar ao sistema o direito de pensar por ele.

            Quem acata tão insólita sugestão afasta-se de Platão, mestre em tornar o ato de pensar uma forma de dialogar. Ou vice-versa. Quem deixar dominar pelo medo de pensar evita contradições e opiniões divergentes, assimila o pensamento de quem o proíbe de pensar e se alheia da busca de verdade, confundindo-a com a autoridade. Ou pior; julga o seu pobre pensar refletir a verdade lapidar e olvida que há a sua verdade, a minha verdade e a verdade verdadeira, ensinavam os antigos sábios chineses. O desafio é buscarmos, juntos, a verdade verdadeira”.

E com sua sabedoria percuciente arremata impiedosamente:  

            Toda verdade humana é relativa: e o nosso juízo crítico, dotado de bom humor, deve sempre persegui-la, peneirando-a na dúvida. Apear-se do bom humor e do senso crítico é pisar no alçapão dos dogmas e, lá dentro, congelado, abraçar-se à verdade aparente. Ora, prefiro inscrever-me na maratona de Descartes, submeter o pensamento ao crivo da dúvida, de modo a construir, por uma sequência de operações, uma representação mental da realidade.

            Pensar é calcular, diz Hobbes, e não se refere à sua conta bancária. Pensar é unificar representações numa consciência, afirma Kant, mestre da lapidação de conceitos. Wittgenstein enfatiza que pensar é elaborar proposições dotadas de sentido. Pensar não é abraçar o que concebe minha mente. A mente mente. Convém desmascarar  o saber travestido de pensamento. Como lembra Marx, se toda essência e aparência coincidissem, as ciências seriam supérfluas. Quem pensa exerga além das aparências. Mas as aparências seduzem a ciência. Por isso, esta tende a rejeitar sua irmã gêmea, a filosofia.”

 Nos tempos de antanho era normal buscarmos só a verdade, todavia com o passar dos tempos a verdade passou a precisar de um reforço, isto é, do seu próprio “pleonasmo”. Por isso, Frei Betto cunhou a construção verbal “verdade verdadeira”, pois hoje quem está no Poder ou na oposição vive para conspirar contra o povo governado.       
 

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