segunda-feira, 24 de maio de 2010

AS LIÇÕES QUE PODEMOS TOMAR DA CRISE AMERICANA...


03/11/08 - As lições que podemos tirar da Crise Financeira

* Ivan Veronesi

Por tudo que já lemos e analisamos a respeito do assunto, a conclusão maior que tiramos desta "hecatombe econômica" secular, provocada pelos EUA, podemos resumir nos seguintes itens:
1) Não se pode confiar nos “postulados econômicos inventados”
[1] pela nação do norte que a tudo dita e o mundo neoliberal simplesmente acolhe sem reflexão;
2) Que o Estado norte-americano juntamente com muitos países vão ter que arcar com uma “soma astronômica” de recursos financeiros para cobrir a incompetência dos “chamados expert” em economia;
3) Que o ônus irá sobrar para os povos que sustentam àquela nação para o desfrute de luxuria e riqueza, enquanto centenas de países amargam a pobreza e a miséria;
4) Que definitivamente o mundo e os “governos nacionais” não devem acreditar na palavra de "economistas alinhados" na visão neoliberal da economia mundial;
5) Que sempre que o segmento importante da economia neoliberal “falha”
[2]os Estados aliados tem que acudir, o que prova que não pode coexistir um “Estado Mínimo”.
6) Que no Brasil tivemos milhares de exemplos de “segmentos ruinosos”
[3] que foram socorridos por recursos do Estado[4];
7) Que a “sociedade soberana” deve impor limites já a esta situação, reformando o “modelo” e estatizando alguns segmentos
[5] que só se locupletam com os recursos dos contribuintes;
8) Que a Presidente da Câmara Alta
[6] dos EUA declarou oficial e taxativamente que o Governo Bush foi incompetente e irresponsável[7] na condução da economia e merecia ser punido pelos seus atos;
9) Que todos os estragos causados pela economia neoliberal serão sempre invariavelmente suportados pelos contribuintes nacionais em todos os países do mundo;
10) Que a reforma do modelo requer mudanças mundiais profundas, incluindo principalmente “mecanismos de segurança” e “blindagens” para que os “países do mundo não paguem” por conseqüências catastróficas que não é de sua culpabilidade;
11) Que a criação de mais um Fundo como quer a União Européia para socorrer casos como este é mais um ônus que será suportados pelos contribuintes de todos os países, sem que a verdadeira mazela seja debelada;
12) Que a punibilidade por “dolos comuns” alcança só os pobres mortais dos país pobres e deveriam ser aplicados também aos “dolos econômicos” , se não os verdadeiros responsáveis norte-americanos pela quebra mundial ficarão impunes
[8]como soe acontecer;
13) Que o mundo não pode ser responsável por uma Gestão ruinosa do setor imobiliário interno de um país que se diz poderoso e cheio de virtudes materiais, quando em última instância quem realmente arca com todo ônus carestia e recessão são os países chamados periféricos, além de já ter contribuído com sua exuberância nababesca.
14) Que está na hora dos Dirigentes mundiais dar um basta e impor condições inarredáveis para contribuir com o fortalecimento da economia norte-americana, quando a mesma fica fomentando guerras infundadas no planeta com gastos infindáveis de recursos financeiros.
15) Em países como o nosso em que, além de “imitar o modelo” de forma precária, são a maioria das “instituições” acometidas de desvios éticos e moral, tanto que no “governo” do FHC
[9] o fundo criado para socorrer “instituições financeiras”, o PROER[10], em 1998 deu um calote de mais de 10 bilhões de reais no bolso do pobre contribuinte brasileiro.
16) Se toda vez que a “iniciativa privada” tiver que ser socorrida pelo Estado, significa que ela (I.P.)tem vínculos subalternos com o mesmo, e não ao contrário com quer os neoliberais, como se “fora uma criança insegura” que só se arrisca “a sair de casa” se o pai estiver dando “apoio logístico” nas horas de crise.
17) Que a educação neste modelo por melhor que seja atinge uma população mínima, todavia não é suficiente, pois um país justo e democrático deve dar o melhor da sociedade em favor do trinômio: alimentação saudável, habitação digna e educação de qualidade.
18) Keynes
[11] “defendeu o papel regulatório do Estado na economia”, mas esqueceu de considerar que o Estado não pode ser o responsável pelos excessos mal intencionados e/ou irresponsáveis do neoliberal capitalismo.
19) Que líderes comunitários desde a “Idade das Cavernas” jamais anuíram a um “padrão civilizatório” compatível com a dignidade de quem mais promove o fomento do capitalismo – o homem - portanto não vai ser através de instituições isoladas
[12] e publicidades sazonais na “Mídia” que se conseguirá um país com “desenvolvimento sustentável”.
20) Que apenas 10% (dez)por cento do prejuízo
[13] que a irresponsabilidade no mercado imobiliário norte-americano vai dar a todos os países daria para “matar a fome” dos pobres e paupérrimos do mundo.
21) Que embora os sistemas ferroviários elétricos ou não, bem como os hidroviários de menor consumo de combustíveis tenha sido manietados no Brasil pelas multinacionais do petróleo que visam quanto mais consumo mais lucro, o Brasil continua a ser o maior emaranhado de rodovias do mundo, por sua extensão, com um astronômico custo de manutenção.
22) Que acumulando o “modelo” uma população assustadora de analfabetos absolutos e funcionais, melhor fica para serem “massa de manobras” sob à influência de forças neoliberais.
23) Desde a primeira CF (1946), quando minha geração já sabia ler, interpretar textos e discernir certas situações sócio-econômicas que o Salário Mínimo(SM) é absolutamente insuficiente para a sobrevivência decente de pequenas famílias brasileiras, todavia as multinacionais já eram contempladas com os maiores lucros e as “remessas” destes já eram normalmente aceitas pelos governos nacionais.
24) Que os países subdesenvolvidos
[14] não agüentam ficar amargando conseqüências ruinosas de países ricos transformados em retrocessos socioeconômicos quando em tempo progresso e crescimento já detém milhões de pessoas excluídas, como é o caso do Brasil.
25) Que está na hora das lideranças sociais organizadas, da totalidade da força sindical do país, das associações de profissionais liberais e da sociedade em geral se conscientizarem que os efeitos desta recessão serão mais perniciosos do que a de 1929, em face da velocidade das informações que servirá para a formação de opinião da população mundial.
26) Que as maxidesvalorizações da moeda nacional é outra manobra para “acertar” a vida de quem especula no mercado financeiro, em especial com o dólar, reforça o poder financeiro das transnacionais e dos megainvestidores e promove a vinda de turistas estrangeiros, todavia prejudica enormemente quem tem contrato com bancos com dívida para pagamento em divisas norte-americanas e gera a desnacionalização dos meios de produção, objetivo maior do modelo. Quando era bancário em 1972/73 vi muitos empresários amargar enormes prejuízos por conta destes contratos, a conhecida Res. 63 do Banco Central. Era realmente de desanimar! Lamentavelmente, conheci um que queria por fim à vida em face destes sofrimentos. No entanto, os empresários sérios por excelência, pereciam; os que lançavam mão do “capital de giro” da empresa com prejuízo de seu crescimento, para especular, ganhavam. Quem não se lembra das grandes maxidesvalorizações no país a partir dos anos 80 com Delfim Neto no Ministério da Fazenda.
27) O impressionante na “hipocrisia do modelo” é que os mesmos que ao longo de décadas e até séculos se beneficiaram e se locupletaram com a concentração da riqueza, nas grandes tragédias climáticas provocadas pela exaustão do próprio ecossistema, doam somas financeiras até expressivas. Sabem por quê? E para que as classes sacrificadas o vejam com “bons olhos” e não percebam esta relação de “causa e efeito”!
28) No modelo neoliberal capitalista as grandes tragédias provocadas pela exaustão e falta de investimentos para recuperar o ecossistema castigam severamente os países pobres, todavia nos ricos os recursos acumulados são tão imensos sendo facilmente suportados pelos megas-seguros e/ou pelo próprio Estado. E que fazem os pobres nestes casos!? Nada. Curtem apenas a desgraça, transformada em flagelo, doenças transmissíveis e num povo prestes a desaparecerem.
29) Por tudo isso, é premente e inadiável que se organize uma CESSA (Comunidade Econômica e Social Sul Americana) podendo incluir a América Central e o Caribe, com interação completa, incluindo moeda própria, para afastar definitivamente os prejuízos e as bravatas que o poder econômico hegemônico Anglo-Americano já causou aos países pobres.
30) O “modelo” gasta bilhões e até trilhões de “dólares” para salvar as “organizações financeiras”, todavia não destina 5% por cento desta monstruosa soma para mitigar a fome e o flagelo mundial da miséria subjacente mesmo nos países avançados que o adotaram.
31) Os ferrenhos defensores do “modelo”, muitos até por conveniência do por convicção, criticam severamente a “carga tributária” que pesam sobre a parte da sociedade, ou seja, de todos os consumidores que a suportam, mas “fecham os olhos” para o alto nível de sonegação, evasão e fraudes tributárias das mais diversas.
32) Preferem “doar oficialmente” milhões, bilhões e até trilhões em recursos financeiros às chamadas “ONGs e/ou OSCIPs”
[1] vocês sabem porque? Não por que estas sejam decorrentes de um “sentimento nato” de seus doadores, mas por que estes valores são contemplados com generosos benefícios fiscais[2] dos países donatários, sem que a Receita Federal tenha um efetivo controle sobre as mesmas, mas só o Ministério da Justiça (ver art. 17 da Lei 9790/99).
Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, em alguns trechos de seu artigo de 29 de outubro de 2008, (domingo), no Jornal Gazeta do Povo (pág. 02 – Opinião), intitulado “Moral da Crise”, disse o seguinte:
“O apodrecimento moral desse fim de reino era já perceptível em 2002, durante os escândalos da Enron, da WorldCom e de outras empresas que ocasionaram ao índice Nasdaq a perda de três quartos do seu valor”.
As análises da crise financeira falam de tudo, menos da moral e de política. Dão a impressão de que o problema se limita a aspectos técnicos, sem vinculação com os valores éticos e independentes das relações de poder.
Não se avança sobre quase metade dos lucros da economia sem contar com a cumplicidade do sistema político.
Liberalização no sentido de eliminar tudo que pudesse limitar as oportunidades de negócios. A fiscalização ficaria por conta da suposta capacidade auto-regulatória dos mercados.
Alegava-se que o sacrifício dos seres humanos e da moral era o preço a pagar pela eficiência e pela racionalidade impostas pela globalização.
Como no New Deal, só uma nova correlação de forças salvará o modelo americano de recaídas periódicas.” (negritos meus)
O artigo do ex-ministro acima é bastante elucidativo, todavia merece alguns reparos, senão vejamos:
O apodrecimento moral em nosso país, na verdade, já era visível a partir de quando os representantes do neoliberalismo alijaram na prática quase que totalmente o Estado
[15] do poder regulatório e de auditagens periódicas[16].
Com o estouro mundial da crise a “mídia alinhada” jamais iria esclarecer que a “causa fundamental” partiu dos EUA quando lá em 2002 com os escândalos das citadas mega-empresas as Bolsas começaram a “balançar”.
O “sistema político” imoral sempre esteve alinhado às supostas “inovações” como é o caso da “globalização”.
Em suma, o ser humano nunca foi o centro das preocupações no neoliberal capitalismo. Se o fosse, não teríamos atualmente no mundo bilhões de pessoas extremamente subnutridas e flageladas.

* Ivan Veronesi é Tributarista, Professor de nível superior, pós-graduado em Administração Pública, Auditor Fiscal aposentado, Consultor e Sociólogo.

[1] Estes postulados sempre foram rebatidos pelos pensadores contrários ao modelo neoliberal.
2 O termo correto seria “alcança sem intento”, pois os mesmos sabem da vulnerabilidade do modelo.
3 Os maiores foram bancos e financeiras que mais lucros acumulam.
4 Diga-se do povo, pois os “Fundos” para essa finalidade são supridos pelos contribuintes.
5 Com Auditagens constantes dos Estados nacionais.
6 Nancy Pelosi em declaração oficial no Congresso, veiculada pela “Mídia” internacional
7 A exemplo dos norte-americanos que derrubaram o Boeing da Gol na Amazônia.
8 Afirmação também do Min. da Fazenda Guido Mantega na Reunião do G20 nos EUA.
[9] Ex-presidente da República conhecido como Fernando Henrique Cardoso.
[10] Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.
[11] Keynes defendeu o papel regulatório do Estado na economia, através de medidas de política monetária e fiscal, para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos - recessão, depressão e booms econômicos. Keynes é considerado um dos pais da moderna teoria macroeconômica.
[12] Anseio de Ricardo Young Presidente do Instituto Ethos no Global Fórum América Latina, Gazeta do Povo, fl. 4,Seção Economia, em 15/06/2008
[13] Fontes internacionais afirmam que é por volta de 3 (três)trilhões de dólares.
[14] Denominação trocada pelo termo sofisticado “emergente”.
[15] A ausência do Banco Central nos escândalos das privatizações são os exemplos mais elucidativos.
[16] Auditorias de “gestão administrativas e contábeis”.
Os conceitos e opiniões veiculadas nos textos são de responsabilidade exclusiva do autor.
[1] Organizações não Governamentais e Organizações da Sociedade Civil de Interesses Público.
[2] LC 64/90, Leis ordinárias nºs 8429/92 e 9790/99.

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